O que aprendi sobre relacionamentos enquanto conversava sobre relacionamentos

Recentemente, voluntária ou involutariamente, meus amigos e eu temos falado muito sobre relacionamentos. Nesse público estão inclusas pessoas solteiras há meses e há anos, pessoas divorciadas, pessoas casadas e pessoas que estão namorando.
Entre chopps, vinhos, hambúrgueres, mensagens de WhatsApp até 2h da manhã e menções (justificadas) ao Baumann, em algum momento, a gente falou sobre se relacionar. Este texto é um compilado desses momentos.
Sobre sentir solidão

Todas as conversas parecem partir do mesmo ponto: sentir-se sozinho. Racionalmente, isso não faz muito sentido: por que essa pessoa está se sentindo sozinha? Os motivos variam.
“Quero alguém com quem possa falar de qualquer coisa”. Bom, em teoria, um amigo pode suprir isso. “Quero alguém para ir comigo nos rolês”. De novo, um amigo pode suprir isso. “Quero alguém pra assistir Netflix abraçadinho”. Mais uma vez, um amigo pode suprir isso.
Tem gente que, inclusive, gosta de “ficar sozinho”, algo que a Adele até cita em My Little Love. Mas, ainda assim, “se sentir sozinho” é um sentimento bem diferente (como a música deixa claro) de “ficar sozinho”.
Indo além do aspecto racional, o que parece faltar é um tipo de amor diferente. Como os primeiros minutos deste vídeo bem ilustram, a língua portuguesa carece de palavras para descrever o amor. Os gregos tinham umas oito palavras diferentes para descrever esse sentimento, enquantos nós temos basicamente duas (“amor” e “paixão”).

Só que amor é algo muito amplo. O amor que você sente pelos seus pais é diferente do que você sente pelos seus amigos, que é diferente do amor pelo seu gato, que é diferente do que você sente quando está apaixonado. Mas a palavra que usamos é a mesma: amor.
Talvez, o que falte, na verdade, é alguém que nos complete. Assim como temos amigos com quem falamos sobre assuntos específicos, um romance envolveria alguém com quem pudéssemos falar sobre todos os assuntos que nos interessam, e, assim, nos sentirmos menos sozinhos?
Seria como achar uma metade que nos falta, certo? Bom, talvez não.
Sobre “se sentir completo”
Em algum momento, o assunto recai sobre “achar a outra metade da laranja”. Particularmente, acho esse pensamento bastante perigoso, pois você está depositando a chance de ser feliz no fato de estar com outra pessoa. Você está se assumindo incompleto e a única forma de resolver isso é estar num relacionamento. Não parece certo, né?
Como o livro que a Jout Jout mostra no vídeo exemplifica, podemos nos preencher com partes de todos os tipos e tamanhos, uma delas pode até ser a parte correta, mas isso não garante felicidade. Basta olhar para todas as pessoas que estão em um relacionamento e que, mesmo assim, são infelizes. Ou, olhe para o seu último relacionamento (se você teve): você era realmente feliz nele?
Eu adoro a série Bojack Horseman, da Netflix. Um dos momentos mais icônicos, pra mim, é uma autorreferência: em um dos episódios, o filme que Bojack estrela vai bem nas bilheterias e a reação que ele esbanja quando lhe perguntam “Como você se sente?” é esta.

Mais pra frente, ele almeja ganhar um Oscar com outro filme que estrelou. Ele, então, é indicado pela academia e novamente é perguntado: “Como você se sente?”.
Esse é o perigo de colocar expectativas em coisas que você não tem. Elas podem não corresponder ao que você espera, nem sanar as “faltas” que você sente. Tem que se ter cuidado com o que se deseja, pois sua felicidade não pode depender de outra pessoa.
Sendo assim, o segredo é controlar as expectativas, então? Mais ou menos.
Sobre expectativas

Você já se perguntou o porquê de querer um relacionamento? Algumas coisas que ouvi foram:
- Quero alguém que me ame e me faça sentir especial
- É da natureza humana se relacionar e procurar alguém
- Quero alguém pra somar na minha vida
- Preciso de alguém em quem possa confiar
Isso tudo faz sentido, mas soa raso. O que é “se sentir especial”? O que seria “somar na sua vida”? O que uma pessoa precisa para “ganhar sua confiança”? É aí que entram as expectativas. Suas… e do outro.
Tem uma frase que acredito ter ouvido em um episódio de Lie To Me, em que o personagem do Tim Roth fala sobre sua esposa:
Eu sempre pensei que ela era a mulher perfeita pra mim. Mas a dúvida que me matava era: será que eu sou o homem perfeito pra ela?
Sendo assim, se você está gostando de alguém, é importante que deixe claro suas intenções. Vi várias pessoas sofrerem por não saberem se o outro também está buscando relacionamento sério, ou por não saberem se os objetivos de longo prazo.
Você quer sair do país? Quer morar em outra cidade? Tá planejando fazer um ano sabático? Pretende sair da casa dos seus pais? Gosta de crianças? Pretende ter filhos? Religião é importante pra você?
Tudo isso pode ser resolvido com conversa. Uma conversa limpa, sem joguinhos, sem medo de ser sincero. Não é um pedido de namoro. É um esclarecimento.
Dito isso, basta ser sincero e tudo vai dar certo, certo? Bom… não é bem assim.
Sobre “podia dar certo”
Quando era adolescente, eu tinha uma visão simplista do amor. Olhava para uma menina que gostava da mesmas coisas que eu e pensava: a gente é perfeito um para o outro. E aí, nada acontecia. A gente nunca ficou junto e ficou a sensação de “podia dar certo”.
Esse é um exemplo esdrúxulo, mas, de acordo com as expectativas que criamos, é fácil cair nessa de “podia dar certo”. Sinceramente, eu já cansei de ouvir história de pessoas enroladas que estão em um estado absurdo de incerteza com alguém: “não sei se ele quer algo sério”, ou “ela parece não ligar tanto pra mim” ou até “acho que sou muito surtada e vou estragar tudo”.
Isso tudo é resultado de incerteza e nós não sabemos lidar com incerteza. Qualquer situação incerta aumenta bastante nossa ansiedade, e aí começamos a “minhocar” coisas na nossa cabeça e interpretar demais as coisas. Muito disso poderia ser resolvido alinhando expectativas — como já comentado — mas ainda assim a gente vai tirar conclusões precipitadas.
Demorou pra responder? “Não tá interessada” em vez de “tá tendo um dia corrido”. Não quer sair de novo no final de semana? “Me apressei e ela acha que estou me apegando” em vez de “ela deve ter marcado outra coisa”. “Falou que tá aproveitando a vida, acho que só quer comer geral”, em vez de “tá focando um pouco em si mesmo”.
Lógico, tem situações em que a interpretação está certa, mas enquanto você não souber a verdade, você teoriza. E se machuca com isso.
Sobre esse tópico, eu realmente não tenho uma resposta ou algo inteligente para dizer. São casos e casos, e cada caso é um… caso. A única coisa que eu defendo é: leve as coisas de forma leve. Se não estiver leve, é possível que tenha algo de muito errado nisso tudo.
E, claro, não esqueça da importância da reciprocidade.
Sobre reciprocidade

Ninguém aqui é Jesus pra “dar sem esperar nada em troca”. Ao menos não quando se trata de relacionamento, pois isso seria uma relação bastante abusiva.
Quando falamos em reciprocidade, estamos falando em “o que estamos dispostos a dar” e “o que queremos receber”. Isso vem alinhado com as expectativas que criamos: por vezes, o que a pessoa pode nos dar não é exatamente o que queremos.
Meu antigo namoro sofreu de falta de reciprocidade dos dois lados. Ela me dava carinho e afeto, mas não dava valor para as coisas que eu gostava, algo que considero importantíssimo. Da mesma forma, eu não me dava bem com coisas que eram relevantes pra ela. Não foi falta de amor. Foi descompasso.
Em uma das discussões com uma amiga, falamos sobre duas pessoas diferentes e se elas “poderiam dar certo”. O cenário hipotético: um cara tranquilo namorando uma mulher intensa. A dissonância parece bem óbvia, pois são praticamente opostos. Contudo, o que a gente tem que pensar é: o que ambos querem e valorizam?
O cara pode gostar ter um tempo pra si, ser um pouco mais introspectivo, e espera que a namorada entenda isso. Da mesma forma, a mulher pode não se importar de fazer as coisas sem a presença do namorado em tudo o que ela faz, pois ela valoriza a liberdade de estar com os amigos dela e viver as coisas dela.
Pessoas diferentes, mas que, de certa forma, podem funcionar juntas mesmo com traços de personalidade diferente. O ponto aqui é olhar para o que eles têm em comum: ambos valorizam sua individualidade.
Tem um ponto que eu não explorei muito, que foi o fator tempo. O quanto alguém mais novo ou mais velho perde ou mantém a esperança de namorar.
O quanto alguém que acabou de terminar deseja voltar a um relacionamento o quanto antes, e o quanto alguém que está solteiro há um bom tempo não tem a mesma pressa. Por que alguém de 20 e poucos é apressado, sendo que alguém de 30 e poucos, por vezes, não é tanto? Sobre isso, acho que é tudo questão de paciência e varia muito de pessoa para pessoa.
Tem horas que eu lembro da música do Keane, que diz “I’m getting older and I need something to rely on”. Tem horas que ela faz sentido, tem horas que não faz. Sempre achei curiosa a escolha de palavras: something, que significa “algo”, e não someone, de “alguém”.
Talvez seja hora de eu voltar a me relacionar, afinal, eu estou ficando mais velho e preciso de algo em que me apoiar. Ou talvez não, e eu ainda precise conversar mais sobre o assunto.