As mulheres da minha vida
Antes de tudo, um disclaimer: essas são lições que eu aprendi durante minha vida, convivendo com mulheres em diversos contextos: amizades, relações casuais, namoro, família... Não é obrigação de mulher alguma ter participação no processo de amadurecimento de ninguém, muito menos se deve ir atrás delas com esse intuito.

Todos os relatos desse texto tem a ver com as minhas vivências e envolvem momentos em que eu errei, ou acertei, ou que erraram comigo, ou que acertaram comigo. Ninguém tem a obrigação de ensinar coisas que devemos aprender com a maturidade, ou que podemos aprender simplesmente tendo uma convivência saudável com o outro.
Dito isso, estas são algumas coisas que eu aprendi com as mulheres com quem me relacionei nos últimos 26 anos.
As que me ensinaram a curtir coisas fora da minha da bolha
Durante toda minha adolescência eu convivi com pessoas que basicamente reforçavam meus gostos pessoais, principalmente no que se referia à música. Sim, eu era um carinha meio “rock wins” e hoje me envergonho horrores disso.
Recentemente, principalmente depois de vacinado contra a COVID, algumas amigas têm convidado para as coisas mais variadas: shows de rock, apresentações de pagode, baladas funk, festas eletrônicas, viagens para praia, viagens para festivais, jogo de futebol americano, entre outras coisas.
Isso só reforçou algo que só fui aprender depois de adulto: todo tipo de rolê pode ser divertido e isso depende, às vezes, da companhia. Antes, eu já havia ido em festas com amigos que não tornaram a experiência muito divertida. Pelo contrário: de alguma forma, a noite pendia para acabar mal por algum motivo, seja porque alguém ficava ruim das ideia, ou bebia demais e alguém precisava ficar de babá.
Hoje, com as pessoas certas, até mesmo os rolês mais insalubres podem ser algo divertido. Isso porque elas se concentram em algo que deveria ser universal: se divertir.
As que me ensinaram a ser sincero sobre meus sentimentos
Tem um vídeo que eu particularmente adoro chamado “O problema com as pessoas legais”, que sintetiza muito bem esse tópico. O vídeo fala sobre um rapaz que boa parte da sua vida se limitou a fazer o que outras pessoas gostariam, pois queria vê-las felizes.
Toda vez que ele deixava de lado o que ele queria, sua cabeça pesava um pouco mais. Aos poucos, ele se afastava e ficava mais frio com as pessoas sem que elas soubessem o motivo, afinal, ele nunca dizia o que realmente sentia.
O ponto do vídeo é: não dá pra esperar que os outros saibam o que você está sentindo, pois só quem sabe isso é você mesmo. Não externalizar isso é uma forma de egoísmo, afinal, você está escondendo coisas do outro e sequer dando uma chance de reação. Isso tudo porque você quer que os outros gostem de você, mesmo que isso signifique realizar um auto-sacrifício.
Várias vezes eu me vi em encontros que eu não queria estar, ou em rolês que eu sabia que não me fariam bem. E ainda assim eu ia, pois achava que era melhor que eu sofresse um pouco para tentar fazer outra pessoa um pouco mais feliz. Pode parecer algo nobre “colocar os outros na frente das suas próprias vontades”, mas isso está longe de ser altruísmo.
Ao ter esse tipo de atitude, eu comecei a querer me afastar cada vez mais dessas pessoas, o que não é nada justo com elas, visto que elas não tem como saber o motivo de eu me afastar. Eu tirei a liberdade dos outros de entenderem a situação, e simplesmente decidi por conta o que era melhor pra todo mundo.

Aos poucos, encontros casuais com mulheres por quem eu tinha um afeto real começaram a virar um fardo. Em vez de ir direto ao ponto, as coisas iam se arrastando e como eu não era sincero sobre como me sentia, tudo andava em espiral ao fundo do poço.
A solução é simples: perguntar pra mim mesmo o que eu quero fazer, de fato. Então, é só compartilhar com o outro o que estou sentindo. Afinal, não é obrigação deles adivinharem o que estou sentindo, muito menos quando estou ativamente escondendo algo.
Desde que eu entendi isso, as coisas têm sido muito mais leves nas minhas relações. No geral, todo mundo entende quando estou indisposto, ou que só prefiro ficar em casa fazendo qualquer outra coisa naquele dia.
As que me ensinaram sobre leveza
Algo que sempre valorizei muito é a liberdade individual. Não, eu não sou liberal, nem apoio as loucuras que o Monark diz (eu votei no Lula nos dois turnos).
Acredito piamente que ninguém deve nada a ninguém, seja em uma amizade ou até mesmo em um namoro. A única coisa que devemos exigir é sinceridade, não só sobre como nos sentimos, mas sobre o que queremos um do outro.
Algumas vezes eu me vi lidando com pessoas que me usavam como pinico de frustrações. Todas as conversas tinham um teor negativo e pessimista. E como alguém com um mínimo de empatia fica ao ver alguém que gosta se sentindo mal? Mal, também. Ouvir essa pessoa falar, às vezes, estragava meu dia.
Em outros casos, rolava um ciúme de um amigo em relação aos outros. Sair com amigos sem envolver a pessoa ciumenta era motivo de briga. Briga… entre amigos… algo pelo qual nunca passei na minha vida, nem mesmo enquanto namorava.
Com isso, toda vez que recebia uma mensagem ou um convite para sair com uma dessas pessoas, já batia um sentimento de cansaço… e eu nem sabia o porquê. Mas ainda assim estava lá, cansado e disponível, pelo bem da amizade.

Quando essas coisas aconteciam, parecia que quem tinha vacilado era eu, por ser um insensível e por não cumprir com as obrigações de bom amigo. Só que aí que mora o erro: desde quando uma amizade tem uma carga tão pesada de obrigações?
A partir disso, comecei a ser mais seletivo sobre quem queria “menos perto”, e não “mais perto”, pois as pessoas que me faziam bem já estavam onde deveriam estar, justamente por termos uma relação mais saudável. O problema eram as relações desbalanceadas, em que parecia que eu me dedicava mais do que gostaria à pessoa.
Isso fez com que algumas pessoas passassem a ter aparições mais pontuais na minha vida. Algumas fizeram falta no início, algo que se resolve com o tempo. Outras até sumiram por completo. E isso tudo me fez… bem.
Agora, sair com os amigos não vem com uma manilha de 100kg no meu ombro. Tudo fica muito mais simples: sem joguinhos, sem fofocas, sem exigências, sem reclamações constantes sem motivo… só momentos tranquilos.
Ainda que falemos de assuntos mais sérios, pelo menos eles não monopolizam mais as conversas. Com isso, a balança fica mais equilibrada e ninguém fica por baixo. O peso fica mais bem dividido e ambos ficam leves.
As que me ensinaram que mulheres também podem ser tóxicas
Você já se sentiu um grande esquisito mesmo com quem você ama? E que suas necessidades não são ouvidas mesmo que você fale delas? Ou até que está sendo cobrado por coisas que não fazem sentido serem cobradas? Pois bem, isso é estar numa relação tóxica, seja você homem ou mulher. E isso me aconteceu em um namoro de anos.
Os filmes que eu queria assistir, nunca dava pra ver: eram tristes demais ou “quero ver algo mais tranquilo porque tô cansada”. As músicas que eu gostaria que ela ouvisse, ela nunca ouvia: são esquisitas demais, ou (de novo) tristes demais. As saídas com meus amigos, ela quase nunca queria ir. E tudo bem, ela não é obrigada a fazer tudo o que eu quero. Só que quando envolvia necessidades dela, a história era bem diferente.
Eu devia ir junto nas saídas com os amigos dela: afinal, tinha que virar amigo dos amigos dela. Deveria ver filmes mesmo que não quisesse: afinal, ela precisava descansar, ou ficar por dentro do que o pessoal tava falando. Se dizia que não queria ir no show de uma banda, ficava chateada. Precisava evitar falar sobre religiosidade, pois poderia ser um ponto de conflito com os sogros e sabe-se lá o que isso viraria.
Chegou no extremo em que eu me vi “querendo” coisas que, na verdade, não queria, só porque parecia o certo a se fazer. Ela queria casar, e se eu não quisesse realizar o sonho dela, é porque eu sou um insensível. Filhos? Eu nem sabia se queria, mas já vinham planos pra ter um ou dois. Morar em outra cidade? Só depois que meu cunhado terminasse a faculdade.
No fim, eu me sentia sozinho e esquisito, mesmo tendo uma namorada.

Algo similar me ocorreu em uma amizade colorida. Constantemente eu tinha brigas que jamais tive antes, nem com minha ex-namorada. Os motivos eram extremamente banais:
- Cobranças em relação aos rolês que eu dava com outros amigos, e não a incluía;
- Ciúmes por eu falar de assuntos com outros amigos, e não com ela;
- Uma acusação constante de que eu a tratava diferente dos demais;
- O fato de eu não concordar com as fofocas que ela fazia em relação a amigos que tínhamos em comum.
Tudo isso colocava um peso em mim, me fazendo, novamente, achar que o culpado de tudo era eu, acreditando que não estava sendo um bom parceiro ou que estava sendo misógino de alguma forma. E, claro, eu também cometi erros nesses dois casos: poderia ter me aberto mais, deixado mais claro o que eu sentia e, principalmente, ser mais incisivo.
Isso porque, em ambos os casos, quando falava sobre minhas insatisfações, rolava ou uma chantagem emocional, em que a pessoa se vitimizava e retornava a culpa toda pra mim, ou a pessoa mudava de assunto e fazia ser só sobre si mesma, ignorando totalmente o que falava.
Logo, o peso voltava pros meus ombros e novamente eu me achava o problema da questão. Era como se o que tivesse sentido fosse falta de maturidade minha, ou ainda birra de alguma forma, ou até como se eu tivesse entendido tudo errado. Um sentimento de culpa que nunca passava, só pesava mais a cada novo encontro.
A solução? Cortar as relações.
Terminar, mesmo.
Confesso que nem sei qual era o objetivo desse texto. Talvez seja só pra eu lembrar das coisas que passei e não deixar acontecer novamente. Talvez eu queira que outras pessoas que vierem a se sentir de forma parecida, saibam que não é um problema só com elas.
Ou, talvez isso seja mais uma conversa comigo mesmo pra sintetizar como as coisas mudaram e refletir sobre como as pessoas com quem convivemos nos ensinam algo.
Da pior ou da melhor forma possível.